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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Morrer em Araioses não é difícil. Difícil é se mantiver vivo numa cidade que não tem um mínimo de serviço de saúde pública, onde se alguém passar mal vai ter que rezar para Deus ter piedade dele e mantê-lo vivo; ou se tiver recursos e condições próprias para correr atrás desse serviço na cidade de Parnaíba, Piauí.

Difícil é se mantiver vivo quem passar mal e for levado ao Hospital Regional da prefeita Luciana Trinta, pois se for um que faça oposição a Toda Poderosa poderá não sair mais vivo de lá, mesmo que seu caso não seja tão grave.

Isso é o que se pode concluir depois da entrevista que o pescador Alciomar da Silva Rodrigues deu ao jornalista Daby Santos no programa Comando Geral da Rádio Santa Rosa FM, na última segunda-feira.

Alciomar disse com todas as letras que soube que uma funcionária daquela casa de saúde (casa de saúde?), que no dia que ele entrar lá, para ter algum atendimento médico, de lá ele não sairá vivo. A funcionária de nome Maria José teria dito que daria uma injeção letal nele pondo-lhe fim a vida.

Toda a cidade sabe que o hospital da prefeita não funciona como deveria. Não dispões de uma equipe de médicos, não tem equipamentos que atendam a demanda e entre os funcionários tem gente boa, mas tem gente como Maria José. É muito comum nos dias da semana não ter um médico sequer para consultar alguém e nos finais de semana não há médicos de plantão.

Araioses não tem serviço público de saúde. Quem pode pagar já existem duas clínicas com médicos para consultar. Qualquer outro procedimento tem que ir a Parnaíba, São Luis ou Teresina. Bem que a cidade já merece algo melhor a muito tempo. E se já não teve o melhor, mas pelo menos já foi menos ruim do que é agora.

Antes todos os prefeitos por muito ruim que fossem mantiveram o hospital do município – Hospital Maternidade Nossa Senhora da Conceição – funcionando, aberto 24 horas, com médicos consultando, dando plantões, onde só os casos mais graves eram mandados para Parnaíba. Na gestão de Luciana Trinta tudo isso acabou, pois um de seus primeiros atos foi fechar o único hospital do povo de Araioses. O que antes foi um local onde muitos araiosenses salvaram suas vidas e onde muitas mães tiveram seus filhos hoje é só ruína.

O risco a vida de Alciomar está nas ameaças da funcionária Maria José. Afinal, mesmo ele tendo boa saúde não está livre de um acidente e pode ser levado por alguém que o socorra ao hospital da prefeita. As ameaças a ele feitas por Maria José devem ter a ver com a atitude desse dias atrás, quando prestou solidariedade a uma família de amigos que moram no Baixão do Estreito, na zona rural do município.

O fato ocorreu nas primeiras horas do dia 20 de outubro. Alciomar estava em frete ao hospital por volta das quatro da manhã esperando um ônibus para Parnaíba, quando viu uma movimentação por lá. Chegando perto descobriu que se tratava de um amigo que estava com sua esposa dentro de um carro, onde horas antes tinha dado a luz a seu filho dentro do veículo, quando passava pela localidade Ponta d’Água distante cerca de 16 km da cidade.

O hospital estava fechado e mesmo diante dos gritos e apelos do pobre coitado, de dentro desse não havia sinal de ninguém. A preocupação de Alciomar era cada vez maior. Afinal, eram mais de cinco da manhã e a criança tinha nascido por volta das três horas. Quem pegou a criança foi o próprio pai e a avó foi quem enrolou o recém nascido com uns paninhos. Alciomar temia que a criança pudesse pegar alguma infecção.

Por volta das 5h30min finalmente a porta do hospital foi aberta e a tal funcionária, a enfermeira Maria José recebeu mãe e filho no hospital, mas reclamando muito e dizendo por que não tinham trazido antes aquela mãe para ter a criança.

Ocorre que essa já tinha estado lá três dias antes. Do hospital da prefeita foi mandada para Parnaíba. Lá não foi atendida e a mandaram de volta, já que os hospitais de daquela cidade não estão mais atendendo pacientes de Araioses.

O Art. 196 da Constituição Federal diz: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Mais a frente o Art. 197 – deixa a responsabilidade dos administradores mais clara ainda: São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

As autoridades de Araioses desconhecem ou desrespeitam a nossa Carta Magna. O descaso com a saúde do povo araiosense por parte de Luciana Trinta ocorre desde os primeiros dias de sua desastrosa administração. O Poder Legislativo e Ministério Público têm conhecimento de tudo e nada de concreto foi feito por eles até hoje para impedir tanto abandono. Ainda não fizeram jus ao salário – pago pelo povo – que recebem.

Enquanto isso as pessoas correm o disco de continuar morrendo ou nascendo dentro de carro nas estradas empoeiradas de Araioses.

Chega! É preciso dar um basta nisso.

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