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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eles deixaram assentamento em Nova Ipixuna após tocaia em 18 de junho.

Glauco Araújo/G1

SÃO PAULO - Duas famílias de agricultores que estavam sobre proteção policial desde que escaparam de um tocaia em 18 de junho, em Nova Ipixuna (PA), voltaram para seus Estados de origem, Amazonas e Maranhão. A Defensoria Pública do Pará informou, nessa terça-feira (26), que os trabalhadores rurais faziam parte de um programa de proteção à pessoa, mas optaram por sair do Pará porque achavam que estariam mais seguros em suas cidades natais.
Eles viviam no assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, onde o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva foi morto em uma emboscada em 24 de maio deste ano.
Nessa segunda-feira (25), parentes dos extrativistas e entidades sociais iniciaram uma campanha pedindo o afastamento do juiz do caso, Murilo Lemos Leão, da 4ª Vara Criminal de Marabá (PA). Ele teria recusado o pedido de prisão preventiva contra três suspeitos do crime feito pela Polícia Civil.
"Isso comprometeu a segurança de todos os agricultores que estão no local de maneira legalizada, das famílias das vítimas", disse José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Os parentes e representantes de entidades divulgaram um manifesto em repúdio pela decisão do juiz. O documento é assinado pelos presidentes da CPT, do Conselho Nacional dos Seringueiros, pastorais sociais da Diocese de Marabá, Movimento dos Atingidos por Barragens, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Nova Ipixuna, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Fórum de Educação do Campo e pela Associação do Projeto de Assentamento Agroextrativista (Apaep).

As vítimas sob proteção

O agricultor José Martins, 57 anos, conhecido como Zequinha, se mudou para o Amazonas, em cidade não divulgada pela Defensoria Pública do Pará por razões de segurança.
A reportagem do G1 esteve com Zequinha no início de junho, logo depois de ele sofrer as primeiras ameaças de morte e de ter quatro construções em sua propriedade queimadas por fazendeiros da região.
Ele já havia sinalizado que deixaria o assentamento, deixando para trás seus múltiplos pequenos cultivos. "O camarada ameaçado vive com medo. É melhor a vida da gente do que a terra. Já queimaram minha casa uma vez e prometeram voltar", disse, na ocasião.
Martins afirmou ao G1 que deixou o assentamento com dor no coração. "Derrubei muita gota de suor para plantar tudo isso aqui, mas tenho certeza que Deus vai me proteger e dar uma outra terra para eu cuidar. Eu não sou mais do que ninguém para ficar no assentamento e colocar minha família em risco."
O outro agricultor que saiu do Pará e que prefere não ter o nome divulgado, já havia denunciado ao G1 que tinha sofrido ameaças de morte por parte de policiais civis e militares. Ele chegou a viajar até Brasília para relatar as ameaças para o Ministério dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente. O secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes Rocha, disse que tomou ciência do fato e afirmou que os quatro policiais citados na denúncia estão sob investigação.
Em Marabá, uma das ameaças foi feita por telefone e alertava que um agricultor do grupo iria "virar carvão".

Federalização do processo

O manifesto divulgado nessa segunda-feira pelos agricultores e familiares de vítimas. Meses antes de suas mortes José Cláudio e Maria denunciaram as ameaças que estavam sofrendo e apontavam fazendeiros e madeireiros como os ameaçadores. As entidades esperam que o inquérito da Polícia Federal sobre o caso, ainda não concluído, possa avançar na identificação de outros suspeitos do crime.
Os familiares das vítimas afirmaram que pediram ao Ministério Público Federal que proponha junto à Procuradoria Geral da República o pedido de federalização do processo.
Os parentes dos extrativistas mortos querem voltar ao assentamento onde ocorreram os assassinatos.

Luto contínuo

Nessa segunda-feira, o pai de Maria do Espírito Santo Silva - extrativista morta em maio - morreu aos 83 anos. "A saúde dele ficou debilitada após a morte da filha. Desde o anúncio da morte dela ele não conseguiu mais andar", disse José Batista Afonso, advogado da CPT.

Investigação concluída

A Polícia Civil do Pará pediu a prisão preventiva de três suspeitos de participar do assassinato do casal de extrativistas. Um deles é um trabalhador rural, dono de terras no assentamento em Nova Ipixuna, no sudeste do Estado, e é apontado como mandante do assassinato. Os outros dois são os executores do crime.
Os três estão foragidos e não foram localizados pela polícia para prestarem depoimento sobre a suposta participação no crime. Eles foram indiciados por homicídio triplicamente qualificado.
De acordo com a investigação, o dono das terras chegou a ser ouvido pela polícia na fase preliminar da investigação, mas depois fugiu da região e nunca mais foi localizado.
Quando chegou a Nova Ipixuma, em 2010, o trabalhador comprou dois lotes de terra do assentamento, por cerca de R$ 50 mil cada um, de acordo com o inquérito policial.
A irmã de José Cláudio, Claudelice, foi informada pelo G1 que a polícia concluiu o caso e pediu a prisão dos três suspeitos. Ela disse que "já sabia" quem eram os autores do crime e afirmou que a área está sob disputa judicial para despropriação.

O crime que serviu de estopim

O casal de extrativista foi morto em uma emboscada na estrada de acesso ao assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, onde moravam. José Cláudio e Maria estavam em uma motocicleta quando foram alvejados por disparos realizados por uma espingarda.
A polícia já havia divulgado o retrato-falado de dois suspeitos de terem executado o crime. O delegado diz que há informações de que os executores não receberam pelo trabalho. “Eles agora foram identificados, temos os nomes e as provas de sua participação. Sabemos que tem um enredo especial, eles tinham uma dívida com o mandante, as informações que temos afastam a possibilidade de pagamento”.

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