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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Gastão Vieira parece um caso raro de político que empobreceu ao longo dos anos.

Segundo Corregedoria-Geral do Maranhão, novo ministro do Turismo apoiou projeto onde foram utilizados irregularmente mais de R$ 171 milhões.

Claudio Dantas Sequeira
IstoÉ


O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira (PMDB/MA), que substituiu o octogenário Pedro Novais, costuma fazer piada com o próprio nome.
Na Câmara, em conversas com colegas, chama a si mesmo de “Pato de Sorte”, numa referência direta ao primo sortudo do Pato Donald, personagem de Walt Disney, que, como ele, também leva o nome de Gastão.
Mas a sorte de Gastão não vem de berço. Ela começou a partir da relação de amizade com o clã Sarney.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), teve peso importante em sua trajetória política e foi decisivo para sua indicação ao Turismo, nas últimas semanas.
As negociações que levaram à nomeação de Gastão, no entanto, não foram nada fáceis, apesar do apadrinhamento do cacique maranhense. Começaram cedo, na quarta-feira 14, e só terminaram às 22h30.
A dificuldade se explica. Após perder o quinto ministro em nove meses, quatro deles envolvidos em denúncias de corrupção, a presidente Dilma Rousseff avisou que não queria “errar uma sexta vez”. Pediu ao PMDB um “ficha limpa” e ensaiou resistência à indicação de outro nome do Maranhão. Mas, depois de consultar perfis indicados por outros caciques peemedebistas, o Palácio do Planalto acabou cedendo às pressões de José Sarney a favor de seu afilhado político.
Na reunião com a presidente, o vice Michel Temer, responsável por articular a indicação dentro do partido, afirmou que tinha mais de 70 nomes para o cargo. Dilma retrucou de pronto. “Se é assim, por que não nomear o Gabriel Chalita?”, disse, deixando claro que também está disposta a influenciar na corrida à Pre¬¬¬feitura de São Paulo.
Comenta-se que Chalita pode suceder Fernando Haddad no Ministério da Educação. Segundo fontes do governo, Temer não aceitou e propôs até nomes de fora da bancada, como Moreira Franco, atual ministro de Assuntos Estratégicos.
Diante do impasse, Sarney impôs sua vontade. “Não vou ceder nenhum espaço político”, avisou. O presidente do Senado havia indicado Pedro Novais e trabalhou nos bastidores para mantê-lo no cargo desde o início dos escândalos, em dezembro.
Conseguiu blindá-lo, apesar da denúncia desmoralizante de que Novais usou verba indenizatória para bancar festa num motel de São Luís.
Mas o cacique maranhense não pôde fazer nada após a divulgação de que Novais pagou com dinheiro público uma governanta e o motorista particular da esposa.
Se a intenção de Dilma é evitar mais desgaste desse tipo, não há garantia de que a escolha de Gastão foi acertada.
À primeira vista, o novo ministro parece um caso raro de político que empobreceu ao longo dos anos.
Em 2010, declarou ao TSE possuir bens no valor de R$ 421 mil, cerca de R$ 20 mil a menos do que havia declarado em 2008.
Nos bastidores, assessores garantem que ele é um dos poucos parlamentares que mandam verba para os municípios e não pedem um percentual de retorno. Mas sua trajetória política não é acima de qualquer suspeita, como seus assessores pretendem fazer supor.
Ele foi duramente criticado, por exemplo, quando secretário de Educação do governo Roseana entre 1995 e 1998, por apoiar a implantação de telecentros nas escolas do Estado. A Corregedoria-Geral do Maranhão concluiu que mais de R$ 171 milhões foram utilizados irregularmente no projeto.
Entre as irregularidades apontadas estão falta de notas fiscais, aquisição de material sem licitação e falhas na entrega de livros. Gastão também virou alvo de críticas ao usar o apartamento funcional em Brasília quando estava licenciado do mandato, em 2009, para assumir a Secretaria de Planejamento do governo Roseana.
A despeito dos questionamentos, ele estava escudado numa autorização excepcional que lhe foi dada pela direção da Casa. Foi o que o salvou de um eventual processo de cassação.
Tal como tantos outros deputados, Gastão foi acusado de nepotismo ao empregar a filha Lycia Maria Vieira como funcionária comissionada em seu gabinete. Ela foi exonerada depois que o STF proibiu a prática.
Quando secretário de Roseana, Gastão também empregou parentes na administração estadual. E, depois, os levou para Brasília. O genro Ricardo Lins, seu braço direito, foi nomeado assessor do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência.
O atual ministro também indicou o sobrinho Danilo Furtado como assessor especial do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Com ajuda do tio, Furtado conseguiu ainda um assento no Conselho Fiscal da Eletrobras.
Nepotismo à parte, Gastão tem um estilo de vida incomum para um político de 65 anos. É fã de esportes e de redes sociais, como o Twitter e o Facebook. Quando viaja, usa terno e mochila com laptop. Advogado de formação, o deputado maranhense está em seu quinto mandato parlamentar.
Durante o fórum nacional do PMDB, Gastão procurou marcar posição ao falar da relação com os Sarney. “Sou ligado à família há muito tempo, mas a família nunca me impôs nada”, declarou.
A relação com a governadora, de fato, é de altos e baixos. Roseana o apoiou na campanha à Prefeitura de São Luís, em 2008, que resultou num fiasco. Já no ano passado, ela impediu Gastão de indicar o sucessor na Secretaria de Planejamento. Os dois se estranharam.
Mas a indicação ao comando do Turismo serviu para outro propósito, segundo pessoas ligadas a ambos: o de selar a paz entre Gastão e a filha de Sarney.

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